segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Parar de Pensar

Crônica retirada do livro "Doidas e Santas", de Martha Medeiros.


Você encontra uma lâmpada mágica no meio do deserto, dá uma esfregadinha e de dentro sai um gênio meio afetado, que concede a você a realização de um desejo. Humm... Você pedidia um segundinho pra pensar? Eu não pensaria um segundo. Aliás, o meu desejo seria justamente este: por bem mais que um segundo, digamos por dois dias, gostaria de parar de pensar. Para totalmente de pensar. Ué, Saramago escreveu sobre um lugar em que pessoas paravam de morrer. Salve a ficção, a casa de todos os delírios. Que tal, temporariamente, parar de pensar?
Eu acordaria e não pensaria em nada. Sendo assim, voltaria a dormir, sem mais despertar todo dia às seis da manhã, como sempre faço, pensando em mil tranqueiras e coisas a providenciar. Mas parar de pensar não impede a fome, então uma hora eu teria que levantar da cama e ir pra mesa - quem decidiu o cardápio? Aleluia, eu é que não fui. Não penso mais nessas coisas.
Abro o jornal, leio todas as matérias e não me ocorre nenhum pensamento tipo: "É pro bolso destes malandros que vai meu imposto?", "Não acredito que fizeram isso com uma criança" ou "Caramba, como fui perder este show?". Eu não penso, portanto, não sofro.
Passo por um espelho e não dou a mínima para o que vejo. Espinhas, olheiras, cabelo fora de moda, danem-se. Moda, falei em moda? Era só o que me faltava ocupar meu cérebro com essas trivialidades.
Tudo vazio lá dentro, um descampado, um silêncio, o paraíso.
Você não pensa mais em como aumentar sua renda mensal, em como fazer seus filhos comerem melhor, em como arranjar tempo para deixar o carro na revisão, em como encontrar um lugar barato para passar as férias, em como ajudar seus pais a atravessarem a velhice, em como ter coragem para chutar o balde, em como responder um e-mail irritante, em como esconder dos outros suas dores, em como arranjar tempo para ir ao médico, em como você tem medo de que as coisas nunca mudem e, se mudarem, em como enfrentar. Você não precisa pensar em mais nada, você pediu ao gênio e ele, camarada, atendeu. Aproveite, são apenas dois dias.
Não precisa ter opinião sobre o Lula, sobre o Alckmin, sobre a segurança do espaço aéreo, sobre a reviravolta do clima do planeta, sobre o último disco do Caetano, sobre o vídeo da Cicarelli, sobre os resultados do Brasileirão. Você está de férias de você. Não tem motivo para chorar. Seu amor se foi? Tudo bem. Você não pensa em rejeição, não pensa que ele tem outra, não pensa se vai surtar. Jogue fora os antidepressivos, não precisa nem mesmo passar creme anti-rugas. Por dois dias, seu humor está neutro e suas rugas se foram. Esse seu olhar sereno, essa sua fala pausada... Nossa, sabia que você ficou até mais sexy?
Tudo isso é uma viagem sem sentido. Concordo. Mas vai dizer que, às vezes, acionar o pause no cérebro não lhe passa pela cabeça?
Escrito por Iza.

2 comentários:

Lê e Iza disse...

Nunca tinha "parado" pra pensar em parar de pensar! E sabe que a propraganda que a Martha fez, me deu uma invejinha boa desse sujeito despreocupado que simplesmente é e está, sem pensar.

Queria enconttrar esse genio dando sopa por aí um dia desses... e por idéia desse texto,já saberia oq pedir!

Gostei do post, mana! Passe mais vezes por aqui! =)

Bjos

mamy disse...

Izoquinha...ficar 2 dias sem pensar na minha bimbi?? hehehe
Q horror... talvez ia querer pensar so em coisas boas
Nossa, eu penso muito!!!
mamy